05 outubro 2010

Centenário da Revolução Republicana



Intervenção na Sessão Evocativa do Centenário da Revolução Republicana, promovida pela Assembleia Municipal de Setúbal:

Em primeiro ligar, em nome dos eleitos da CDU, gostaria de saudar o Município pelo conjunto de iniciativas levadas a cabo em torno das comemorações do Centenário da Revolução Republicana e, em especial, a Assembleia Municipal, por esta Sessão Evocativa que pela sua natureza própria representa bem o espírito republicano e democrático que aqui celebramos.

Em segundo lugar, saudar ao Povo português, pois evocar o Centenário da Revolução Republicana é evocar os Homens e as Mulheres que decidiram romper com o regime anacrónico e parasitário de uma Monarquia decadente e dar um passo firme e decidido na longa caminhada do Povo Português pela sua libertação, terminando muitas das tarefas que haviam ficado por concretizar nas Revoluções liberais de 1820 e 1834: acabar com as estruturas feudais ainda vigentes, derrubar o clero e a nobreza das suas posições dominantes, separar o Estado e a Igreja, promover o combate à ignorância e ao obscurantismo.

Nesta saudação ao Povo Português, cabe uma saudação particular ao Povo de Setúbal e à sua história e tradições de luta e combate por um País melhor e mais justo.

Cabe lembrar que trabalhadores, operários, conserveiras, pescadores, intelectuais e pequena burguesia fizeram de Setúbal um importante centro de Resistência à Monarquia, um espaço de confronto pela melhoria das condições de vida e de trabalho, uma Cidade em luta pela conquista de direitos políticos e civis e pela abolição dos privilégios de casta. 
 
Cabe lembrar que, em Abril de 1909, foi em Setúbal que reuniu o Congresso do Partido Republicano definindo como orientação a via revolucionária para o derrube da Monarquia, abandonando teses conciliatórias e de evolução do regime, abrindo caminho para a Revolução de Outubro de 1910.

Cabe lembrar que os Setubalenses não esperam por 5 de Outubro para proclamar a República e no dia 4, Setúbal, já era uma cidade livre de monarca e republicana que exigia um Portugal de «Liberdade, Igualdade e Fraternidade», um Portugal não de Soberano e Súbditos, mas de Cidadãos de plenos direitos e iguais perante a Lei

Cabe lembrar que este mesmo Povo não ficou por aqui e quando a burguesia recém instalada no poder começou a trair (como é seu hábito e natureza) esquecendo as promessas feitas e as reivindicações dos trabalhadores, reprimindo e atacando o movimento sindical, prendendo dirigentes, encerrando sindicatos e jornais operários, deportando activistas, os trabalhadores de Setúbal estiveram em luta nas ruas e nas fábricas, corajosamente continuando o combate que outros abandonaram, sendo a Greve dos trabalhadores da indústria conserveira de Setúbal, em Março de 1911, disso um bom exemplo.

Aliás, esta burguesia instalada no novo poder Republicano cedo alienou o apoio popular que lhe havia garantido a vitória e teria sido indispensável para consolidar o regime democrático e enfrentar a reacção monárquica e fascista, que, depois de várias tentativas, sempre frustradas pela decisiva mobilização das massas populares, acabou por impor uma ditadura 16 anos após o triunfo da Revolução.

Uma ditadura que se impôs 48 anos ao Povo português, novamente subjugando-o aos interesses de uma burguesia que encontrou na brutalidade do fascismo a melhor forma de garantir os seus lucros e tentar domesticar aqueles que ousaram pretender um mundo justo e sem classes, uma ditadura que, uma vez mais, contou com a firme oposição e resistência dos trabalhadores e da classe operária e que, também aqui, em Setúbal, pôde enfrentar a luta e a resistência de quem nunca cedeu à injustiça, à miséria, à repressão e à opressão e criou as condições necessárias à madrugada libertadora de Abril.

É pois aos Setubalenses e aos herdeiros desses Setubalenses que nos conduziram à Revolução Republicana, desses Setubalenses que combateram por uma República democrática que desse resposta aos anseios das classes trabalhadoras, desses Setubalenses que resistiram e lutaram contra a ditadura fascista, desses Setubalenses que ergueram Abril, a Democracia, a Liberdade e a Paz, que dirigimos esta mensagem no Centenário da Revolução Republicana, afirmando que contarão com os eleitos da CDU na continuação da sua luta num momento em que enfrentam a mais violenta ofensiva contra os seus direitos e condições de vida desde o 25 de Abril de 1974.

É enquanto herdeiros do que de mais avançado e libertador a Revolução Republicana de 1910 comporta, que estaremos ao lado e em todas as lutas dos Trabalhadores e do Povo contra os privilégios de alguns e o sacrifício da maioria, contra as reduções de salários, os cortes no investimento, o encerramento e degradação de serviços públicos, a diminuição de transferência de verbas do Orçamento de Estado para as Autarquias, o aumento de impostos sobre o consumo, o aumento da exploração do trabalho.

É como herdeiros desses Setubalenses que exigiram e lutaram por um Portugal de progresso e justiça que reafirmamos aqui, nos Paços do Concelho, o nosso compromisso de estar em todas as lutas em defesa do regime democrático consagrado na Constituição, pelo progresso social, a independência nacional e a dignificação do trabalho, a começar já pela Greve Geral, marcada para o dia 24 de Novembro, pela CGTP-IN.

É, pois, como herdeiros desses Homens e Mulheres que nos momentos difíceis fizeram Portugal avançar, resistiram à tirania, conquistaram direitos que afirmamos:

Viva Setúbal!
Viva a República!
Viva Abril!
 A Luta Continua!

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