25 novembro 2010

A Greve vista da Travessa

Em Setúbal, a noite chuvosa não impediu que algumas centenas de trabalhadores formassem piquetes de Greve à porta de algumas das principais empresas do concelho.

Na Portucel foi possível ouvir gente nova a denunciar a precariedade dos seus contratos, a «cenoura» de um prémio em troca da Greve, a expressão «vou trabalhar, se não amanhã já cá não meto os pés», foi possível ver os trabalhadores de uma empresa contratada decidirem que nenhum entraria ao serviço, reforçando o piquete de greve.

Na Lisnave, ouvia-se a Grândola e outras músicas de intervenção, entre apelos à Greve Geral, num piquete com muito pouco trabalho, tendo em conta a dimensão da adesão dos trabalhadores a esta luta por direitos e melhores condições de vida.

Na CNE, o piquete de Greve, quando lá cheguei, já não existia, a fábrica estava parada, ninguém compareceu ao trabalho.

Na Estação Ferroviária, na Praça do Brasil, o piquete conversava descontraidamente sem que se vislumbrassem trabalhadores ou passageiros, mais tarde viu-se um comboio da Fertagus – mas deslocava-se vazio e sem recolher passageiros.

Na estação dos TST, na Varzinha, apenas um motorista foi buscar o seu autocarro e perante a resistência do piquete de Greve que o queria convencer a não trabalhar, acabou por chamar a polícia que lhe abriu caminho e permitiu que aquele homem fosse o orgulho do patrão.

Na Rodoviária, já por relato, o espectáculo do costume com os chefes de estação a assumir o protagonismo do vale tudo, substituição de trabalhadores em greve, ameaça a trabalhadores, tentativas de atropelamento, até à chegada da polícia que impediu que este espectáculo continuasse.

Na Greve Geral todas as formas de expressão da luta e do descontentamento são importantes, mas os piquetes de Greve assumem uma centralidade indiscutível, eles são a última barreira entre a submissão e a coragem de dizer basta, são muitas vezes o factor decisivo que leva vários trabalhadores a aderir à Greve e juntarem-se aos seus camaradas, são o elemento chave que determina a paralisação de muitos sectores.

Nos piquetes de Greve em Setúbal não vi muita gente que por lá deveria andar em coerência com o que dizem defender, mas a história não se faz com esses, faz-se com aqueles que mais discretos, mais sérios e mais responsáveis vão à luta e estão lá, na linha da frente, onde o embate se dá, sem protagonismos e sem falsos apoios.

Para a História fica uma grande Greve Geral e o sinal de que os trabalhadores portugueses estão ganhos para a luta, exigindo uma inversão de políticas e a criação de perspectivas de um futuro justo e solidário.

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